IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NA DOAÇÃO DE SANGUE NO BRASIL: ANÁLISE HISTÓRICA DOS ANOS DE 2011-2020

https://doi.org/10.1016/j.htct.2021.10.907Get rights and content
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Objetivos

Avaliar os impactos da pandemia de COVID-19 na doação de sangue no Brasil, pela análise histórica de 2011 a 2020.

Material e métodos

Trata-se de um estudo descritivo e quantitativo, com dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) no Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), sendo selecionadas as variáveis: quantidade aprovada por região/unidade da federação, por local de atendimento, período de 2011 a 2020, e filtro de procedimento para coleta de sangue para transfusão. Além disso, para cálculos das taxas, foi feito o levantamento demográfico no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Resultados

Visualizou-se que a taxa de transfusão para cada 1000 habitantes no Brasil no ano de 2020 foi a menor no período estudado, sendo de 13,50. Na análise por regiões, todas tiveram em 2020 o menor índice do intervalo, em ordem crescente região Norte (11,16), Nordeste (12,07), Sudeste (13,46), Centro-Oeste (15,70) e Sul (16,69). Somente cinco estados e o Distrito Federal não tiveram recorde negativo em 2020, são eles: Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Calculando-se a taxa de variação desse índice (comparação com o ano anterior), constatou-se que em 2020 houve a maior queda em relação ao Brasil (-9,98%), a segunda maior foi em 2013 (-3,80%). O mesmo ocorre quando se olha para as regiões em separado, 2020 foi recorde negativo para Sul (-8,98%), Norte (-9,06%), Sudeste (-9,88%), Nordeste (-11,87%), a exceção é a região Centro-oeste que teve o pior momento em 2018 (-8,21%), sendo 2020 (-7,91%) o segundo.

Discussão

A necessidade do isolamento social frente à pandemia de COVID-19, haja vista seu alto potencial de transmissão e mortalidade, impactou as doações de sangue e, consequentemente, causou redução dos estoques dos diferentes hemocomponentes, afetando serviços de hemoterapia e a vida de pacientes. Destaca-se, que os hemocentros precisaram se adequar para garantir a segurança dos profissionais e doadores, assim, novas medidas de prevenção e segurança demandaram implementação, como: atualização na triagem com perguntas para sintomas clínicos da COVID-19, aferição de temperatura, busca ativa de testes diagnósticos positivos para o vírus em doadores recentes, limpezas e  a desinfecção dos laboratórios e lavagem e desinfecção das mãos. Contudo, evitar aglomerações e fatores de propagação do coronavírus, influenciou a captação de novos doadores, sendo preponderante a atuação e busca dos já recorrentes antes do período pandêmico. Portanto, para contornar o desabastecimento de sangue, outras medidas foram tomadas como: o cancelamento de cirurgias eletivas, diminuição no rigor de alguns critérios para a doação (queda da restrição da doação de homosexuais, pelo STF) e aumento das campanhas televisivas e nas redes sociais para incentivar essa prática.

Conclusão

Diante do que foi apresentado nesse estudo, ficou evidente a queda expressiva nas doações de sangue a taxas nunca vistas em quase todas as regiões do Brasil. Dessa forma, foi imperiosa a capacidade de adaptação dos hemocentros, da população e das instituições de saúde, para superar os obstáculos da pandemia. Além disso, a discussão de algumas questões sensíveis e a necessidade de reafirmação da ciência, foram questões centrais nesse cenário, para o combate da desinformação e preconceito na sociedade.

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