A Covid-19 na Terra Indígena Vale do Javari: entraves e equívocos na comunicação com os Korubo
COVID-19 in the Vale do Javari Indigenous Territory: barriers and misunderstandings in communication with the Korubo
COVID-19 en el territorio indígena Vale do Javari: barreras y equívocos en la comunicación con los Korubo
DOI:
https://doi.org/10.15446/ma.v11n2.88675Palabras clave:
Covid-19, Terra Indígena Vale do Javari, Korubo, Recente contato (pt)Covid-19, Javari Valley Indigenous Territory, Korubo, Recent contact (en)
Covid-19, Territorio Indígena Vale do Javari, Korubo, Contacto reciente (es)
Descargas
O novo coronavírus que já assolava diversas regiões do Brasil chegou à Terra Indígena Vale do Javari, Estado do Amazonas, no mês de junho de 2020, região com povos indígenas de recente contato e alta concentração de povos indígenas em isolamento. A pandemia da Covid-19 nos leva ao repensar de antigas formas de relação e comunicação, exigindo-nos práticas de isolamento e, paralelamente, a circulação de informações em uma velocidade jamais vista antes. Na ausência de medicamentos e imunizações, as recomendações sanitárias ganham centralidade enquanto medida de contingenciamento do novo coronavírus. No entanto, a eficácia da comunicação pode esbarrar em entraves e equívocos que permeiam a relação entre os pacientes e as equipes de saúde. A partir de pesquisa de campo realizada junto aos Korubo, povo de recente contato da Terra Indígena Vale do Javari, este artigo intenciona refletir sobre a comunicação informativa no contexto da pandemia da Covid-19.
The new coronavirus that had already been plaguing several regions of Brazil reached the Vale do Javari Indigenous Territory, State of Amazonas, in June 2020, a region with indigenous peoples of recent contact and a high concentration of indigenous peoples in isolation. The COVID-19 pandemic leads us to rethink old ways of relating and communicating, requiring isolation practices and, at the same time, the circulation of information at a never-before seen speed. In the absence of drugs and immunizations, health recommendations gain centrality as a contingency measure for the new coronavirus. However, the effectiveness of communication can face some obstacles and misunderstandings that permeate the relationship between patients and health teams. Based on field research carried out among the Korubo, indigenous people of recent contact from the Vale do Javari Indigenous Territory, this article intends to reflect on informative communication within context of the COVID-19 pandemic.
El nuevo coronavirus, que ya asolaba varias regiones de Brasil, llegó al Territorio Indígena Vale do Javari, Estado de Amazonas, en junio de 2020, una región con presencia de pueblos indígenas en contacto reciente y con alta concentración de pueblos indígenas en aislamiento. La pandemia del COVID-19 nos lleva a repensar viejas formas de relacionarnos y de comunicarnos, hizo evidente la necesidad de prácticas de aislamiento y, al mismo tiempo, de la circulación de información a una velocidad nunca vista. Ante la ausencia de medicamentos e inyecciones, las recomendaciones de salud pública se vuelven centrales como medidas de contingencia para enfrentar el nuevo coronavirus. Sin embargo, la efectividad de la comunicación en salud puede toparse con obstáculos y equívocos que impregnan la relación entre los pacientes indígenas y los equipos de salud. Basado en una investigación de trabajo de campo realizada con los Korubo, pueblo en contacto reciente del Territorio Indígena Vale do Javari, este artículo pretende reflexionar sobre la comunicación informativa en el contexto de la pandemia del COVID-19.
Referencias
ARISI, B. (2007). Matis e Korubo: contato e índios isolados, relações entre povos no Vale do Javari, Amazônia (Dissertação de Mestrado, Programa de pós-graduação em Antropologia Social). Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
BELAUNDE, L. (2012). Diseños materiales e inmateriales: la patrimonialización del kené shipibo-konibo y de la ayahuasca en el Perú. Mundo Amazónico, 3, 123-146.
BLASER, M. (2009). The Threat of the Yrmo: The Political Ontology of a Sustainable Hunting Program. American Anthropologist, 111(1), 10-20. https://doi.org/10.1111/j.1548-1433.2009.01073.x
BLASER, M. (2013). Ontological Conflicts and the Stories of Peoples in Spite of Europe. Current Anthropology, 54(5). https://doi.org/10.1086/672270
BLASER, M. (2016). Is Another Cosmopolitics Possible?. Cultural Anthropology, 31(4), 45–570. https://doi.org/10.14506/ca31.4.05
CENTRO ECUMÊNICO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO / CEDI. (1990). Aconteceu: Especial, nº18. Acervo ISA. Povos Indígenas no Brasil 1987/88/89/90.
CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA / CTI. (2004). A grave situação das hepatites B e D no Vale do Javari. Dossiê. URL: https://biblioteca.trabalhoindigenista.org.br/wp-content/uploads/sites/5/2019/10/Dossie_hepatites_VJ-2004-completo.pdf
CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA. (2010). Informe sobre a Saúde na Terra Indígena Vale do Javari. Dossiê. URL: https://www.ecodebate.com.br/pdf/cti-javari.pdf
CESARINO, P. e Welper, E. (2006). Epidemias produzem o caos social. Centro Ecumênico de Documentação e Informação/CEDI. Povos Indígenas no Brasil-2001/2005. Instituto Socioambiental, 449-452.
COUTINHO JR., W. (2008). Hepatopatias no vale do Javari: virulento agravo à saúde indígena e afronta aos direitos humanos. Manaus: MPF. Relatório.
COUTINHO JR. (2020). O contágio da Covid-19 no Vale do Javari: uma situação de emergência em saúde indígena. Relatório Técnico nº 112/2020-PGR/SPPEA/ANPA. 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.
DÉLÉAGE, P. (2009). Les savoirs et leurs modes de transmission dans le chamanisme sharanahua. Cahiers d'anthropologie sociale, 5(1), 63-85.
ERIKSON, P. (1986). Altérité, tatouage et anthropofagie chez les pano: la belliqueuse quête de soi. Journal de la Société des Américanistes, LXXII, 185-210. https://doi.org/10.3406/jsa.1986.1003
ERIKSON, P. (1996). La griffe des aïeux: marquage du corps et démarquages ethniques chez les Matis d'Amazonie. Paris: Peeters.
ERIKSON, P. (1999). El sello de los antepasados. Marcado del cuerpo y demarcación étnica entre los matis de la Amazonía. Lima. Instituto Francés de Estudios Andinos. https://doi.org/10.4000/books.ifea.2730
ERIKSON, P. (2002). Le masque matis. Matière à réflexion, réflexion sur la matière. L’Homme, 161, EHESS. https://doi.org/10.4000/lhomme.145
ERIKSON, P. (2003). Comme à toi jadis on l’a fait, fais-le moi à présent...”. Cycle de vie et ornementation corporelle chez les Matis (Amazonas, Brésil). L’Homme. Revue française d’anthropologie, 167-168, 129-152. https://doi.org/10.4000/lhomme.237
KELLY, J.A. (2003). Relations within the Health System among the Yanomami in the Upper Orinoco, Venezuela (Tese de doutorado). Universidade de Cambridge.
KELLY, J.A. (2005). Notas para uma teoria do “virar branco”. Mana, 11(1), 201-234. https://doi.org/10.1590/S0104-93132005000100007
KELLY, J. A. (2010). Os encontros de saberes: equívocos entre índios e Estado em torno das políticas de saúde indígena na Venezuela. Ilha: Revista de Antropologia, 11(2), 265-302. https://doi.org/10.5007/2175-8034.2009v11n1-2p265
LAGROU, E. (2006). Rir do poder e o poder do riso nas narrativas e performances Kaxinawa. Revista de Antropologia, 49(1), 55-90. https://doi.org/10.1590/S0034-77012006000100003
LAGROU, E. (2007). A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de Janeiro: TopBooks.
MATOS, B. (2014). A Visita dos Espíritos: ritual, história e transformação entre os Matses da Amazônia brasileira (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
MATOS, B. e Marubo, J. (2000). Colapso no atendimento provoca retorno de epidemias. Centro Ecumênico de Documentação e Informação/CEDI. Povos Indígenas no Brasil-2001/2005. Instituto Socioambiental, 444-445.
MC CALLUM, C. (1999). Aquisição de gênero e habilidades produtivas: o caso kaxinawá. Estudos feministas 7 (1-2).
MÉDICO SEM FRONTEIRAS. (1999). Projeto de Serviços Sanitários Básicos para Populações Indígenas no Vale do Javari, Estado do Amazonas, Brasil. Relatório.
NASCIMENTO, H. e Erikson, P. (2006). Desastre sanitário. Centro Ecumênico de Documentação e Informação/CEDI. Povos Indígenas no Brasil-2001/2005. Instituto Socioambiental, 446-448.
NASCIMENTO, H. e Paredes, D. (2006). A grave epidemia de hepatite B e D no Vale do Javari. Relatório/CTI. URL: https://biblioteca.trabalhoindigenista.org.br/artigos_periodicos/a-grave-epidemia-de-hepatite-b-e-d-no-vale-do-javari/
OLIVEIRA, S. (2009). Preliminares sobre a fonética e a fonologia da língua falada pelo primeiro grupo de índios Korúbo recém-contatados (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade de Brasília.
RICARDO, F. e Gongora, M. F. (2019). Cercos e resistências: povos indígenas isolados na Amazônia brasileira. São Paulo: Instituto Socioambiental.
ROJAS, M. X. F. (2019a). Entre játa y waweamu: VIH/SIDA en las comunidades awajún de la Amazonía Peruana. Mana, 25(3), 777-808. https://doi.org/10.1590/1678-49442019v25n3p777
ROJAS, M. X. F. (2019b). “Iina uchiji jinawai”: AIDS e o cotidiano Awajún (Amazônia Peruana) (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
SAMPAIO, M. R., Turcotte, S., Martins, V. F., Cardoso, E. M. and Burattini, M. N. (1996). Malaria in the indian reservation of “Vale do Javari”, Brazil. Revista Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 38(1). https://doi.org/10.1590/S0036-46651996000100011
SELAU, M. (1991). Projeto de Prevenção e Combate à Cólera nas Comunidades Indígenas do Rio Javari. Relatório de viagem. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Coordenação de Saúde do Índio. Brasília, Distrito Federal, dezembro/1991. 35p.
SILVA, J. O. (2020). O isolamento é possível? O caso de um povo de recente contato do Vale do Javari. Cadernos de Campo, 29, 244-254. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29isuplp244-254
SILVA, J. O. e MARQUES, R. B. (2020). Emergência sanitária no Vale do Javari e a situação dos povos de recente contato diante da Covid-19. Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato/OPI. URL: https://povosisolados.com/2020/06/21/emergencia-sanitaria-no-vale-do-javari-e-a-situacao-dos-povos-de-recente-contato-diante-da-covid-19/
VARGAS DA SILVA, B. (2017). Territorialidade Korubo no Vale do Javari (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia, Universidade Federal do Amazonas.
VIVEIROS DE CASTRO, E. (1979). A fabricação do corpo na sociedade Xinguana. Boletim do Museu Nacional (N.S.) 32, 40-9.
VIVEIROS DE CASTRO, E. (2004). Perspectival Anthropology and the Method of Controlled Equivocation. Tipití: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America, 2(1), Article 1.
Cómo citar
APA
ACM
ACS
ABNT
Chicago
Harvard
IEEE
MLA
Turabian
Vancouver
Descargar cita
CrossRef Cited-by
1. Philippe Erikson. (2022). Chacho rësho, la « grippe des cochons » : l’impact du Covid-19 sur les Chácobo d’Amazonie bolivienne. L'Homme, (242), p.121. https://doi.org/10.4000/lhomme.42654.
2. Jarliane Da Silva Ferreira, Rosemara Staub de Barros, Carmen Pineda Nebot. (2022). Entre ríos y bosques: los desafíos de ser investigadora en comunidades amazónicas. Mundo Amazónico, 13(1), p.e90636. https://doi.org/10.15446/ma.v13n1.90636.
Dimensions
PlumX
Visitas a la página del resumen del artículo
Descargas
Licencia
Derechos de autor 2020 Juliana Oliveira Silva
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
Los autores son responsables de todas las autorizaciones que la publicación de sus contribuciones pueda requerir. Cuando el manuscrito sea aceptado para publicación, los autores deberán enviar una declaración formal sobre la autenticidad del trabajo, asumiendo personalmente la responsabilidad por todo lo que el artículo contenga e indicando expresamente su derecho a editarlo. La publicación de un artículo en Mundo Amazónico no implica la cesión de derechos por parte de sus autores; sin embargo, el envío de la contribución representa autorización de los autores a Mundo Amazónico para su publicación. En caso de realizarse una reimpresión total o parcial de un artículo publicado en Mundo Amazónico, ya sea en su idioma original o en una versión traducida, se debe citar la fuente original. Los artículos publicados en la revista están amparados por una licencia Creative Commons 4.0.
Los autores que publican en esta revista están de acuerdo con los siguientes términos:
- Los autores conservan el copyright y otorgan a la revista el derecho de la primera publicación, con el trabajo simultáneamente licenciado bajo una Creative Commons Attribution License que permite a otros compartir el trabajo con el reconocimiento de la autoría y la publicación inicial en esta revista.
- Los autores pueden hacer arreglos contractuales adicionales para la distribución no-exclusiva de la versión publicada en la revista (por ejemplo, colocar en un repositorio institucional o publicarlo en un libro), con el reconocimiento de su publicación inicial en esta revista.